A denúncia partiu esta
semana do representante da Fase - Federação de Órgãos de Assistência
Social e Educacional, Ronaldo Freitas. De acordo com a denúncia,
cerca de dois mil trabalhadores de assentamentos, que trabalham com
a cultura da mamona no sudoeste de Mato Grosso em incentivo à
produção de biodiesel, estão sendo envenenados há um ano sem que as
autoridades competentes façam nada a respeito.
Produzido pela
Bayer do Brasil o produto, por ser de tarja amarela, ou seja,
considerado altamente perigoso para o meio ambiente e a saúde
humana, já está proibido no Rio Grande do Sul, Santa Catarina,
Paraná, Bahia, Mato Grosso do Sul, Amazonas e Pernambuco. Isso pelo
fato de já ter levado a óbito pessoas que utilizaram o produto. A
empresa que incentiva a cultura da mamona em Cáceres chama-se
Central de Compra da Mamona (CCM).
Ela garante aos assentados
a compra da mamona e fornece, além da semente, assistência técnica.
No entanto, apesar de tanto "apoio" não disponibiliza nem orienta o
uso de Equipamentos de Proteção Individual quando da aplicação dos
agrotóxicos. Esse fato, segundo Freitas é gravíssimo, pois o produto
é sempre utilizado quando a cultura da mamona chega a altura do
rosto do cidadão sendo por ele ingerido sempre que o aplica.
"O Endosulfan, um dos produtos utilizados, é um
organoclorado da família do DDT e BHC. Uma gota é capaz de matar uma
pessoa, pois tem efeito cumulativo. Pode matar de duas maneiras:
rápido, quando o trabalhador começa a sentir tonturas, vômitos e dor
de cabeça ou devagar acabando com sua imunidade", alertou.
Outro problema encontrado é que o panfleto da empresa,
distribuído amplamente em Cáceres, "recomenda" substâncias químicas
básicas como o inseticida Metamidophos e Polytrin, produtos estes
considerados muito perigosos para o meio ambiente e altamente danoso
ao ser humano. Também o fungicida Rovral, produto muito perigoso ao
ambiente; o Vitavax Thiram, produto altamente perigoso ao ambiente
e; herbicida sistêmico Round up e Gramoxone, este último
classificado como altamente tóxico para o homem e muito perigoso
para o ambiente, segundo a Anvisa - Agência Nacional de Vigilância
Sanitária.
Freitas explicou que a recomendação de uso de um
determinado agrotóxico numa determinada cultura deve originar-se a
partir do registro do mesmo, passando por avaliação, aprovação e
comprovação a partir de documentos científicos. Por estarem sendo
recomendados a Fase solicitou ao Ministério da Agricultura e
Pecuária e Abastecimento informações sobre agrotóxicos registrados
para utilização na cultura da mamona. A resposta do Ministério
afirma que não há nenhum inseticida registrado, portanto,
legalizado, para o uso da cultura da mamona.
"O único
fungicida registrado é a base de enxofre. Além disso só existe
registro para herbicidas à base de trifluralina e não o de marca
coimercial Round up, como a empresa CCM vem recomendando", informou.
A empresa Aventis, de propriedade da Bayer, fabricante do agrotóxico
Metamidophos, também foi contatada pela Fase e afirmou que não
indica o produto para este fim.
De acordo com Freitas a
Secretaria de Desenvolvimento Rural contribui mesmo que
indiretamente para a continuidade do problema uma vez que incentiva
os dias de campo para que a cultura da mamona cresça para que se
consiga fortalecer a indústria do biodiesel. Nada contra o
biodiesel, afirma ele, pelo contrário. Só acha que o governo do
Estado deveria incentivar mais as pesquisas entre a CCM e a UFMT
para que encontrem uma solução mais ecológica para combater a
lagarta e o pulgão, que são as pragas que atingem as lavouras de
mamona.
A cultura da soja também é outra que uso o
agrotóxico, mas não tem tanto problema porque a aplicação é
mecanizada. No entanto, o produto, alerta a Fase, fica nos grãos e o
consumidor é quem acaba ingerindo este veneno. (Estação
Vida)
Comente
esta notícia no espaço do leitor
|